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quinta-feira, 13 de outubro de 2022

O Último Computador

 

     

                Por Luís Fernando Veríssimo

        Um dia, todos os computadores do mundo estarão ligados num único e definitivo sistema, e o centro do sistema será na cidade de Duluth, nos Estados Unidos. Toda a memória e toda a informação da humanidade estarão no Último Computador. As pessoas não precisarão mais ter relógios individuais, calculadoras portáteis, livros etc. Tudo o que quiserem fazer – compras, contas, reservas – e tudo o que desejarem saber estará ao alcance de um dedo. Todos os lares do mundo terão terminais do Último Computador. Haverá telas e botões do Último Computador em todos os lugares frequentados pelo homem, desde o mictório até o espaço. E um dia, um garoto perguntará a seu pai:

        – Pai, quanto é dois mais dois?

        – Não pergunte a mim, pergunte a Ele.

        O garoto apertará o botão e, num milésimo de segundo, a resposta aparecerá na tela mais próxima. E, então, o garoto perguntará:

        – Como é que eu sei que isso está certo?

        – Ora, Ele nunca erra.

        – Mas se desta vez errou?

        – Não errou. Conte nos dedos.

        – Contar nos dedos?

        – Uma coisa que os antigos faziam. Meu avô me contou. Levante dois dedos, depois mais dois... Olhe aí. Um, dois, três, quatro. Dois mais dois quatro. O Computador está certo.

        – Bacana. Mas, pai: e 366 mais 17? Não dá para contar nos dedos. Jamais vamos saber se a resposta do Computador está certa ou não.

        – É...

        – E se for mentira do Computador?

        – Meu filho, uma mentira que não pode ser desmentida é a verdade.

        Quer dizer, estaremos irremediavelmente dominados pela técnica, mas sempre sobrará filosofia.

(Luís Fernando Veríssimo).

Banca: FCC Órgão: PGE-AM